quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

ARTIGO: Jornalista: uma profissão letrada que ganha menos do que um gari



De antemão, vou logo avisando: não tenho nada contra os garis. Respeito a profissão e a sua importância para a nossa qualidade de vida. Já parou para pensar, caro leitor, o quão essas pessoas são importantes para fazer com que Mossoró seja uma  das cidades mais limpas do Brasil? A crítica que vou fazer agora, não tem nada a ver com essa profissão, mas com a que abracei desde os meus quinze anos de idade e que só vejo definhar, ao longo dos tempos. Ser jornalista hoje é menos vantajoso do que ser um gari.

Isso mesmo, caro leitor, um gari ganha mais do que um profissional de comunicação neste Rio Grande do Norte velho de guerra, em que o piso da categoria letrada é de apenas R$ 1.050,00. Resolvi escrever esse artigo hoje depois de uma revolta ter nascido dentro de mim nas últimas horas.

É que sou empregado concursado de um banco federal, que paga os salários de várias empresas que prestam serviço na área de limpeza. Uma delas mandou pagar seus funcionários ontem — não vou revelar o nome porque não interessa —e vi em seus contracheques que nenhum deles ganhava menos do que um jornalista.


Revolta
Isso mesmo, caro leitor, um jornalista, profissional generalista, que leva a todos nós a informação do dia-a-dia, que por vezes se arrisca tentando combater as injustiças e a corrupção, percebe ao final do mês menos do que um gari, profissional importante, repito, mas que não precisa estudar coisa alguma, que não tem as mesmas responsabilidades de um jornalista.

Descaso
Essa situação não é hoje, é bem verdade, mas ver os salários dos garis maiores do que os de nós jornalistas doeu no coração. Dói mais ainda por saber que os garis estavam recebendo, na verdade, a primeira quinzena de fevereiro, quando sei que várias empresas de comunicação, de Mossoró e de outros municípios potiguares, estão em atraso com seus funcionários de até dois meses.

Pior
Isso mesmo, caro leitor: não bastasse o salário de miséria da categoria, ainda temos pela frente os constantes atrasos. Não são todas as empresas que atrasam os salários, é verdade, mas infelizmente as que não atrasam não cumprem com as obrigações sociais. Tem empresa que posa de rica, que tem arrecadação recorde de vários entes públicos, mas não cumpre suas obrigações com INSS e FGTS.

Valores
O menor salário que paguei ontem não era inferior a R$ 1,1 mil, ou seja, estamos falando de valor líquido. Se levarmos em consideração os descontos do salário bruto de um jornalista, teremos aí este profissional percebendo no máximo R$ 900. Isso mesmo, o gari de menor salário ontem ganhava mais do que um jornalista mais de R$ 200.

Tristeza
Amo a minha profissão, caro leitor, sou jornalista por paixão e vocação. Dedico-me desde quando era menino de calças curtas, como gosta de dizer a colega Lúcia Rocha. Era um adolescente quando entrei pela primeira vez na redação de um jornal. De lá para cá já fiz praticamente tudo, menos imprimir. Já sonhei que um dia a profissão poderia ser um porto-seguro, mas infelizmente o que vejo hoje é decepção. Sofro por ver colegas com a luz ou a água cortadas porque com essa miséria não tem quem viva.

Autonomia
Consegui através de concurso público a minha autonomia financeira, mesmo assim não deixo de me indignar com essas situações. Deixo aqui o reconhecimento de que algumas empresas resistem bravamente para manter os empregos dos seus funcionários, numa atitude de desprendimento. Ao mesmo tempo, entendo que mais cedo ou mais tarde os grandes nomes acabarão por procurar outras profissões ou mesmo terminarão por fazer concurso como eu para poder complementar a renda e ter uma vida digna e com um mínimo de tranquilidade.

Lamentável

É um quadro lamentável que dificilmente vai se modificar, porque se arrasta há muito tempo e a própria categoria não tem mobilização para mudar isso. Aliado a esse problema, a fragilidade das empresas, que não aguentariam uma greve sequer. O Diário de Natal é um exemplo disso. Lembro que uma página daquele jornal chegou a custa R$ 13 mil no final da década de 1990. Antes do seu fechamento, não conseguia vender por R$ 3 mil.

Transformações
Torço por transformações na área, pela profissionalização da Internet, que pode vir a garantir uma melhor remuneração aos profissionais da área no futuro, quando cada um trabalhará para si. Vai demorar ainda, é verdade, mas continuo com o velho jargão popular de que a esperança é a última que morre. Tomara que não seja de fome, como os jornalistas potiguares estão caminhando para morrer.

Desabafo
Esse foi um desabafo, caro leitor, como profissional de comunicação que tem 21 anos de experiência e já passou por rádio, jornal, televisão e Internet. Eu conheço o que estou dizendo e lamento por ver que ser jornailsta seja hoje mais sacrifício do que satisfação.


Postado por Pedro Carlos, no Blog de Pedro Cardoso “Todos por Mossoró”

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