sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

ARTIGO EI, PSIU!


OLHA OS CARROS AÍ!
NÃO EMPURRA NÃO!
AMARRE AS CALÇAS!


   Numa viajem ao Estado do Tocantins, há alguns anos atrás, tive a oportunidade de gravar na memória as metáforas acima, presenciando uma cena comum de pessoas que frequentavam uma feira livre, no mercado municipal de Araguaína, numa manhã de sábado chuvoso, onde os feirantes cuidavam em agir rápido para montar suas barracas, evitando que os produtos molhassem na chuva e perdessem padrão de qualidade e preço. O corre-corre era grande. Jamais consegui esquecer esse episódio e, vez por outra, me vejo usando tais metáforas com os mais variados propósitos. Assim mesmo, as três juntas! Uma não tem sentido sem a outra e vice e versa. Locupletam-se. Pessoas próximas, convivendo comigo ao longo desses anos, também as adotaram como hábito. Isso me deixa feliz mesmo por que a intenção é tão somente de brincar com o nosso linguajar, o nosso imaginário, abusando do tom meramente cômico e irreverente do povo brasileiro. Assim, para que entendam, resolvi discorrer neste artigo uma tradução lógica, ao pé da letra, do significado dessas frases, que são um jargão estropiado da minha linguagem cabocla, herança adquirida na oportunidade da observância do dia a dia nessas minhas andanças por este mundo de Deus.
 
   Temos os escândalos do Big Brother Brasil (coitadinho desses pais), o julgamento do Lindemberg (?), que assassinou Eloá, a votação da “ficha limpa” pelo Supremo Tribunal Federal, para ficar de bom tamanho. Vem chegando o carnaval, a festa mais tradicional do calendário brasileiro. Somos alienados por natureza e, à medida que desenvolvemos nossos costumes e tradições, nos dispersamos e nos esquecemos de tudo que nos cerca, perdendo a noção de tempo, espaço e a visão panorâmica de que dispomos. O povo se entrega aos caprichos do rei momo. Enquanto o reinado permeia por nossos rincões, as mazelas, à mercê de nossa corte, vão se sucedendo furtivamente. Não damos conta de perceber os meandros que nos assolam. Daí o cabimento de se dizer: olha os carros aí! Sim. Por que ao nos dirigirmos a algum ponto, ao atravessarmos uma rua, ao nos infiltrarmos na multidão, nos deparamos com o súbito e imprevisível, deixamos de prestar atenção ao que está, ou vem, do lado, de cima, de baixo, por exemplo. Perde-se a visão periférica. Quem quer ter controle e coordenação se desespera! Quem tem o sentido amplo da percepção não se deixa levar por esse estado de coisas. Daí o cabimento de se dizer: não empurra, não! Por que, enquanto você, brinca, bebe ou dormita, entregue às consequências tantas, tem camarada te empurrando sim! Usurpando, manipulando o que é seu, te puxando o tapete. Por fim, a exemplo do camarada que vai hastear a bandeira perante uma plateia afoita e alvoroçada e se vê, num repente, com as calças arriadas nas canelas e, surpreendentemente, não esboça qualquer reação, estabanado, nos resta o cabimento de dizer: amarre as calças! Invariavelmente, se não cuidarmos com segurança e assiduidade das nossas vestes (os problemas circunstanciais, as soluções que buscamos, os caminhos que percorremos, matando um leão todo dia), ficaremos, literalmente, com as calças na mão! E haja chacotas, né, não? Então: cuide-se neste carnaval! Depois vem a rebordosa!
   Olha os carros aí! Preste atenção a tudo e todos!
   Não empurra, não! Não se desespere!
   Amarre as calças! Cuide-se. Mantenha-se em alerta, ligado!
  
   Feliz carnaval!

Carlos Dias Felizardo,
  Acadêmico em Adm.Pública- UFRN

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