terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

ARTIGO- “ISTO NÃO ME PERTENCE!”


Mais um excelente artigo do meu amigo Carlos Felizardo

São três horas da manhã, meu cachorro de guarda latiu (plagiando Raul Torres e Carreirinho). Após a clássica ida ao banheiro volto rapidinho para a rede em busca de outro sono.O silêncio da madrugada é cortado, de repente, pelo roncar de uma turbina. É mais um avião que se prepara para a decolagem. Fico acompanhando o barulho. Noto que vai correndo na pista, se distanciando e, minutos depois, o silêncio está de volta.  Lembrei-me de Maria Cecília. Está neste avião. Disse-me que iria às compras em São Paulo. Passará o dia na rua 25 de março e voltará à noite. É assim, um pé lá, outro cá. E eu aqui contando meus carneirinhos... Fiquei imaginando a corrida na pista até atingir algo em torno de 500 km/hora, o levantar do bico daquele monstro de 60 toneladas, que neste momento é irreversível, ou seja, sem volta, já que outra opção seria desastrosa, até sumir rumo ao espaço, na escuridão da noite. Lá na cabine de comando os pilotos conferem dados deste voo que não é cego porque equipamentos eletrônicos, de última geração, dão as coordenadas seguras de que precisam para cumprir o trajeto. Na classe de passageiros, certamente, comissários dão assistência aos notívagos das mais diversas estirpes. –São quatro horas de viagem até São Paulo. O tempo está bom em todo o trecho, tenhamos uma viagem tranquila. Bom descanso. É o comandante dando palavras finais, já atingindo a velocidade de cruzeiro, que além de silenciosa, é ideal para tirar uma soneca porque a vibração é zero. Não mexe nem pedra de gelo num drinque.
  Recordei o meu amigo “Foguinho”, pescador nativo, lá da praia de Tibau, no Ceará. Fazia eu minha caminhada matinal pela praia, antes do nascer do sol. A brisa soprava lentamente, o mar estava calmo e a maré começando encher. Observei manchas avermelhadas na areia prateada, numa vasta extensão, dando um tom rosa às conchinhas, o que me deixou curioso. Queria entender a causa daquela cor vermelha. Pareciam dejetos! Os barcos dos pescadores, que chegaram pela noite, vindos do último dia de pesca da lagosta, já estavam aportados por ali. Férias para eles. Seis meses de férias! Continuei andando e eis que me surge Foguinho. – Bom dia! Quanto tempo. Como vai? – Bem, respondi. –Feliz por estar aqui revendo amigos como você e triste porque noto que a praia está suja. –E fedida! Respondeu ele. Fiquei surpreso. Não sentia fedor algum! –Você não sente porque não é daqui. Não tem noção, mas nós sentimos muito antes do fenômeno acontecer. –E o que é? Indaguei. Ele me acompanhou até onde as águas lambiam nossos pés e disse: - o mar chora! O mar bate, se lavando, expelindo impurezas tantas! Isso é um procedimento de limpeza! O que vai ao mar e não é dele, é devolvido! É a natureza e sua divindade! Achei essa história linda! Guardei. Não vou pesquisar tais colocações! Eu respeito meu amigo pescador. Recordei os gatos se lambendo. As galinhas catando piolho. Entendo que a natureza também faz sua faxina! Que bom!

   No Maranhão moradores de dois vilarejos presenciaram a queda de objetos que estão considerando lixo espacial. São identificadas uma peça tipo bumerangue e outra do tipo esfera. A primeira atingiu um buritizeiro e ficou encravada no tronco como um machado em riste.O bumerangue é um aparelho inventado por australianos, tipo lâmina, de madeira, curvado, que, lançado de forma errada, retorna bem próximo de quem o lançou. Essa peça, caprichosamente, não sabia dessa parte, até porque, certamente, não foi lançada dali!  A segunda malhou um cajueiro, abrindo um buraco profundo no caminho da roça de um nativo. Para termos uma ideia, o impacto de 1 kg vindo de dez metros de altura está para algo em torno de uma tonelada, segundo alguns experimentos do pessoal de física. A esfera que lá bateu pesa mais ou menos 35 kg. Daí... Em ambas as situações o prejuízo foi zero.Poderia ser diferente. As chances são mínimas, porém existem e, com certeza, hora dessas, não escolherão quem, nem como e muito menos, onde?
   O homem, em nome do desenvolvimento, vem enchendo o espaço sideral de equipamentos sofisticadíssimos, os quais, amanhã naturalmente, se tornarão lixo eque, ao abordar a atmosfera, serão captados de volta! É a vingança da mãe natureza! Por vezes pensando nela deduzo quão imprescindível é que nos abdiquemos de toda mazela, sob pena de vir ruir aos nossos pés o universo fabuloso que habitamos. Não teremos outra chance a não ser nos submetermos aos seus desígnios. Ela é soberana, altaneira e implacável quanto a tudo que se vai ou se vem contra ela.
   Maria Cecília me liga. Está tomando café no mercado modelo e já vai às compras. São oito horas. Eu aqui, escrevendo esse artigo, com intuito reflexivo, já não bastassem o efeito estufa, o desmatamento desordenado de nossas florestas e matas ciliares, a poluição de rios e nascentes, a emissão de gases poluentes e o descaso escancarado com que cuidamos de nosso lixo!  Pensemos nisso. Só assim estaremos dando chance a nossa sobrevivência. Caso contrário, fatalmente, estaremos a cada dia nos extirpando mais e mais da face da terra!

Carlos Dias Felizardo
 Acadêmico de Adm. Pública-UFRN

Nenhum comentário:

Postar um comentário